2023

Sentinela Eleitoral

Entry type: Single project

Country/area: Brazil

Publishing organisation: Agência Pública, Berkman Klein Center for Internet & Society da Universidade de Harvard, Media Lab da Universidade da Virgínia, Trint, 7c0, Aos Fatos, Núcleo Jornalismo

Organisation size: Big

Publication date: 2022-07-25

Language: Portuguese, English, Spanish

Authors: Natalia Viana, David Nemer, Bruno Fonseca, Mariama Correia, Paula Bianchi, Laura Scofield, Matheus Santino, Alice Maciel, Nathallia Fonseca, Bianca Muniz, José Cicero da Silva, Thiago Domenici, Alexandre Aragão, Amanda Ribeiro, Ana Rita Cunha, Bianca Bortolon, Ethel Rudnitzki, João Barbosa, Julianna Granjeia, Laís Martins, Luís Felipe dos Santos, Luiz Fernando Menezes, Marco Faustino, Milena Mangabeira, Sergio Spagnuolo, Tai Nalon, Geane Carvalho Alzamora, Christina Xiao, Guilherme Felitti e Flávio Nakasato, Bruna Bastos, Nina Santos, Nina da Hora, Yasmin Curzi, Bruna Batista

Biography:

Fundada em 2011 por repórteres mulheres, a Pública é a primeira agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do Brasil. Todas as nossas reportagens são feitas com base na rigorosa apuração dos fatos e têm como princípio a defesa
intransigente dos direitos humanos. Ao longo de nossa história, conquistamos 52 prêmios, entre eles, o Gabriel Garcia Márquez, o mais importante prêmio de jornalismo da América Latina. Nossas reportagens de fôlego pautadas pelo interesse
público são distribuídas e republicadas por centenas de veículos comunicação brasileiros e estrangeiros todos os anos.

Project description:

O projeto Sentinela Eleitoral é uma aliança entre jornalistas e acadêmicos para investigar as campanhas de manipulação do debate público e a desinformação online em torno das eleições brasileiras de 2022, com especial foco naquelas que ameaçam a estabilidade democrática.

Em parceria com o pesquisador David Nemer e o Berkman Klein Center for Internet & Society da Universidade de Harvard, o projeto traz ao público informações exclusivas e análises que geralmente ficam restritas à academia, lançando luz sobre narrativas inautênticas, seus atores e seu financiamento.

Impact reached:

Desde julho de 2022, o projeto Sentinela Eleitoral busca não apenas desmentir informações falsas ou apontar os principais atores da desinformação, mas entender ainda de que forma pessoas e grupos estão se utilizando de mentiras para manipular o debate e a opinão pública. Investigamos, entre outros, o papel das principais redes sociais na disseminação da desinformação eleitoral – e a reação (ou falta dela) das plataformas -, o uso de verbas públicas nas campanhas de manipulação do debate público, e a participação de influenciadores da extrema direita americana na narrativa da suposta fraude nas eleições.

Diversas reportagens do especial Sentinela Eleitoral apontaram as relações entre Bolsonaro e seus filhos e influenciadores da extrema direita americana, e como o bolsonarismo estava seguindo a cartilha de Donald Trump antes e depois dos resultados das eleições, como ficou ainda mais evidente com a invasão e destruição do Congresso, do Supremo Tribunal Federal e do Palácio da presidência em Brasília no dia 8 de janeiro.

Uma investigação recente do Sentinela Eleitoral revelou os códigos usados por bolsonaristas para combinar as últimas etapas de invasão da Praça dos Três Poderes nas redes sociais e aplicativos de mensagem, como o termo “Festa da Selma”, uma alusão a “Selva” — expressão usada por militares brasileiros — e a hashtag #BrazilianSpring, cunhada por Steve Bannon. A reportagem repercutiu dentro e fora do Brasil, sendo citada por diversos veículos internacionais, como New York Times, The Guardian, Chequeado (Argentina), La Republica, (Peru) e Observador (Portugal).

Além de serem republicadas por dezenas de veículos nacionais, algumas reportagens do Sentinela Eleitoral também foram traduzidas para o inglês e o espanhol e republicadas por veículos internacionais como Brazilian Report, NACLA, Coda Story (EUA), elDiário (Espanha), elDiarioAR, Infobae (Argentina), El País (Bolívia), Interferencia (Chile), Pie de Página (México), openDemocracy, Latin America Bureau (Reino Unido), Worldcrunch (França).

Techniques/technologies used:

Utilizamos a biblioteca snscrape do Python para a coleta de tweets de uma determinada pesquisa no Twitter, usando operadores de busca avançada. O código coleta dados sobre o tweet (data de publicação, conteúdo do tweet, hashtags, engajamento, links externos) e sobre o usuário que publicou (id, username, se é verificado ou não). Com essas informações, é possível ver as hashtags mais frequentes, usuários mais ativos em uma discussão, links compartilhados, cronologia de um determinado assunto no Twitter.
Além disso, monitoramos a circulação de mensagens nos grupos de Telegram.

Context about the project:

O projeto caminhou com total restrição de recursos, por sermos uma Agencia Independente. Além disso, ele se deu em um contexto de extrema violência contra jornalistas e de ataques à democracia, sendo um trabalho bastante traumatizante acompanhar essas redes, em especial porque muitos dos líderes investigados por nós são violentos. Nosso repórteres se infiltraram em grupos para acompanhá-los, e nosso editor Thiago Domenici chegou a ser ameaçado, tendo gerado apoios de todas as organizações relevantes do setor. Outros sofreram assédio online, e nossa equipe se tornou alvo não apenas de influenciadores da ultradireita brasileira, mas também da Americana.

Apesar disso, o projeto Sentinela Eleitoral representou um salto qualitativo na cobertura de desinformação no Brasil por aplicar os conceitos desenvolvidos pela academia – nós na Pública usamos a metodologia da equipe do Technology and Social Change project (TaSC) da Universidade de Harvard, descritas no Media Manipulation Casebook. Com isso, foi possível demonstrar os responsáveis e descobrir uso de dinheiro público no financiamento de Fake News.

Além disso, houve um salto analítico, fruto de pesquisa realizada na Universidade de Harvard. Nesse sentido, o Sentinela Eleitoral representa a união entre jornalismo de dados, conhecimento acadêmico e jornalismo investigativo tradicional.

Entendemos campanhas de desinformação atendem à estratégia definida pela equipe do TASC como “turvar as águas” (‘muddy the waters’, em inglês).

O termo se refere à criação de um ambiente informático confuso e desorientador, no qual é difícil para um cidadão comum separar o que é verdade do que é mentira. Isso acontece quando há uma proliferação de fontes desinformacionais competindo com fontes que relatam fatos, como jornais, sites independentes, a comunidade acadêmica.

A tática é mais relevante em momentos de instabilidade política fabricada para ganho pessoal. Um dos maiores exemplos de ‘turvar as águas’ na política recente foi a campanha de Donald Trump para reverter a sua derrota nas eleições americanas de 2020 – alegando ‘fraude’ – o que levou à invasão do Capitólio por uma turba armada em 6 de janeiro de 2021.

É assim que uma campanha de desinformação pode levar a ações concretas, na vida real. Nosso objetivo com o Sentinela é investigar, documentar e denunciar estratégias que pretendem desestabilizar as eleições brasileiras.

What can other journalists learn from this project?

É fundamental aos jornalistas aprender a usar tecnologia e dados para investigar como o debate público está sendo manipulado, A política, hoje, se faz numa circularidade: nas redes, nas ruas e dentro das instituições de governo, ad infinitum, e a manipulação do discurso se dá em qualquer uma dessas etapas. Criam-se fatos políticos a partir de um punhado de seguidores fanatizados, mas através do uso cuidadoso de redes bem arquitetadas, pode-se gerar movimentos sociais temerários. Há hoje poucos jornalistas especializados em investigar a desinformação e responsabilizar seus principais atores. Para o futuro próximo, não haverá como cobrir política sem cobrir desinformação. O futuro da cobertura política está aí.

Através de ferramentas de monitoramento de grupos de WhatsApp, Telegram, Facebook e Twitter, é possível chegar aos principais “nós de rede”, influenciadores médios, que atuam cotidianamente para ampliar mensagens importantes no dia a dia. É possível, ainda, determinar como funcionam, quem começa, por onde se espalham, quantas contas robotizadas ou inautênticas interagem e propagam cada uma das ondas de desinformação. Dá para entender seu timing e seu objetivo. E, emprestando metodologias da academia, podemos ainda entender as táticas usadas para propagar fake news. É isso o que outros jornalistas podem aprender com esse projeto.

Project links:

https://apublica.org/sentinela/

https://apublica.org/sentinela/2022/09/analise-de-hashtag-bolsonarista-revela-coordenacao-para-apoiar-golpe-nos-eua/

https://apublica.org/sentinela/2022/10/matar-e-quebrar-urnas-evangelico-lider-de-motociata-incentiva-crimes-no-telegram/

https://apublica.org/sentinela/2022/11/bloqueio-de-estradas-foi-articulado-nas-redes-semanas-antes-da-votacao/

https://apublica.org/sentinela/2022/11/a-invencao-da-primavera-brasileira-por-steve-bannon/

https://apublica.org/sentinela/2022/12/15-taticas-golpistas-de-trump-que-bolsonaro-ja-adotou-e-as-que-ainda-vai-usar/

https://apublica.org/sentinela/2023/01/bolsonaristas-usam-codigo-festa-da-selma-para-coordenar-invasao-em-brasilia/