2023
Quem está destruindo as unidades de conservação da Amazônia
Entry type: Single project
Country/area: Brazil
Publishing organisation: Agência Pública
Organisation size: Big
Publication date: 2022-03-14
Language: Portuguese
Authors: Rafael Oliveira, Ciro Barros, Bianca Muniz, Thiago Domenici

Biography:
Fundada em 2011 por repórteres mulheres, a Pública é a primeira agência de jornalismo investigativo sem fins lucrativos do Brasil. Todas as nossas reportagens são feitas com base na rigorosa apuração dos fatos e têm como princípio a defesa
intransigente dos direitos humanos. Ao longo de nossa história, conquistamos 52 prêmios, entre eles, o Gabriel Garcia Márquez, o mais importante prêmio de jornalismo da América Latina. Nossas reportagens de fôlego pautadas pelo interesse público são distribuídas e republicadas por centenas de veículos comunicação brasileiros e estrangeiros todos os anos.
Project description:
As unidades de conservação (UCs) do bioma amazônico vêm sendo alvo recorrente de grileiros, madeireiros e agropecuaristas que são responsáveis por milhares de km² de desmatamento. A conclusão é baseada na análise de dados de multas aplicadas entre 2009 e 2021 pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Segundo apuração da reportagem, a destruição está concentrada no entorno de importantes rodovias federais, em especial a BR-163. Além de revelar quais são as UCs mais visadas e os motivos para ela estarem no foco dos grandes desmatadores, a matéria também revela quem são os maiores multados pelo órgão ambiental.
Impact reached:
A reportagem traz informações concretas sobre um assunto geralmente tratado de forma abstrata: as pessoas e empresas diretamente envolvidas na destruição de áreas destinadas à proteção da Amazônia, entre elas políticos regionais e aliados, infratores com vasta ficha de acusações criminais, além de grandes empresas. O levantamento revela quais são as Unidades de Conservação mais afetadas e os tipos de infrações ambientais mais frequentes, importantes dados para guiar políticas públicas que busquem coibir esses crimes, além de outras investigações jornalísticas.
A reportagem foi republicada por 19 veículos brasileiros, como UOL, Revista Galileu e EcoDebate. Ela também foi repercutida pelo boletim do Instituto ClimaInfo, organização especializada no debate sobre mudanças climáticas, e pelo boletim do Instituto Socioambiental. O trabalho foi citado, ainda, em uma série de reportagens do The Intercept Brasil sobre como grileiros o estado para se apropriar de terras públicas na Amazônia.
Techniques/technologies used:
Os dados que fundamentam a reportagem foram obtidos pela agência Fiquem Sabendo após longa batalha junto aos órgãos brasileiros que promovem o acesso à informação. A reportagem da Agência Pública foi a primeira a utilizar de maneira profunda o material obtido. Baixamos as bases de dados sobre multas aplicadas pelo ICMBio entre 2009 e 2021, obtidas pela agência Fiquem Sabendo por meio da Lei de Acesso à Informação. Padronizamos as bases de autuações eletrônicas e em papel disponibilizadas pelo ICMBio e selecionamos as variáveis de interesse para análise no software RStudio. Após juntarmos as bases, partimos para a elaboração dos chamados resumos agrupados – buscamos agrupar informações a partir de uma variável de interesse. Hierarquizamos, por exemplo, os infratores com maior número de autuações no período coberto pela base de dados. Verificamos também quais infratores possuíam o maior valor de multas no período, já que o valor das multas é um indicativo da gravidade da infração ambiental. Também fizemos um ranking das Unidades de Conservação com maior concentração de multas no período coberto pela base e nos anos do governo Bolsonaro. Com esses resumos agrupados em mãos, partimos para a busca de processos judiciais e registros dos históricos dos infratores, procuramos os citados para darem suas versões e formulamos um quadro interessante sobre os maiores infratores nas UCs da Amazônia. A reportagem também utiliza-se de infográficos interativos para apresentar alguns dos principais dados obtidos.
Context about the project:
O desmatamento e a destruição dos biomas brasileiros, em especial da Amazônia, esteve presente em todos os governos, antes e depois da redemocratização do Brasil. Em nenhum deles, porém, houve um incentivo tão descarado e institucionalizado para que todo tipo de criminoso ambiental atuasse à revelia da lei como durante o governo de Jair Bolsonaro. No mesmo sentido, nunca houve tantos esforços concentrados para enfraquecer e minar a atuação de órgãos públicos de fiscalização, como o ICMBio. No governo Bolsonaro, pautar a destruição da Amazônia é assunto obrigatório, e a reportagem “Quem está destruindo as unidades de conservação da Amazônia” cumpre esse papel, revelando não só onde estão os focos da destruição, mas também dando nome aos bois, a partir de dados inéditos.
A reportagem gerou duas suítes, uma delas, publicada conjuntamente, mostra quais são as empresas mais multadas pelo ICMBio (link número 2); outra, publicada meses depois, revela quem está por trás da destruição das Unidades de Conservação do Cerrado (link número 3), um dos biomas mais ameaçados do Brasil, mas que geralmente recebe menos cobertura que a Amazônia.
What can other journalists learn from this project?
Investigar as unidades de conservação, sua administração, as infrações e os infratores ambientais que avançam sobre elas abre várias possibilidades de pautas, que ainda não são propriamente exploradas pelo jornalismo. A série de reportagens feitas pela Agência Pública com base nos dados obtidos pela Fiquem Sabendo também mostram a relevância do uso da Lei de Acesso à Informação e do monitoramento sistemático de bases de dados abertas por projetos como o Fiquem Sabendo. As reportagens também mostram a importância de ir além dos dados, já que são baseadas não só nos números da destruição, mas na investigação dos CNPJs, CPFs e nomes por trás das infrações ambientais, assim como o contexto em que elas ocorrem.
Project links:
https://apublica.org/2022/03/quem-esta-destruindo-as-unidades-de-conservacao-da-amazonia/
https://apublica.org/2022/03/as-empresas-mais-multadas-nas-unidades-de-conservacao-da-amazonia/
https://apublica.org/2022/08/quem-esta-destruindo-as-unidades-de-conservacao-do-cerrado/