2023
“Por que os garimpeiros comem as vaginas das mulheres Yanomami?”
Entry type: Single project
Country/area: Brazil
Publishing organisation: Sumaúma – jornalismo do centro do mundo
Organisation size: Small
Publication date: 2022-09-13
Language: Portuguese, English, Spanish
Authors: Talita Bedinelli
Ana Maria Machado
Pablo Albarenga

Biography:
Talita Bedinelli é formada em ciências sociais e jornalismo e atua nas principais Redações brasileiras há quase 20 anos. Já ganhou diversos prêmios jornalisticos e procura aliar dados e reportagem em seus projetos. Neste ano, ajudou a fundar a Sumaúma – jornalismo do centro do mundo, um projeto idealizado por Eliane Brum e Jonathan Watts, premiados jornalistas, com sede em Altamira (Pará), na Amazônia. A Sumaúma procura mudar o olhar do jornalismo mundial e colocar a Amazônia no centro. As reportagens são publicadas em português, inglês e espanhol.
Project description:
A reportagem traz um retrato da tragédia no território Yanomami, invadido por garimpeiros. Por meio da Lei de Acesso à Informação conseguimos dados para um raio-x inédito do território e assim mostrar o impacto real do garimpo em cada aldeia. Os dados mostram, por exemplo, como e quantas vezes os garimpeiros expulsaram as equipes de saúde, deixando os Yanomami sem atendimento, o aumento de mortes de crianças e da violência. Eles também foram o ponto de partida para a reportagem. Nos mostraram quais aldeias precisávamos visitar e organizamos a retirada de avião de mulheres para escutá-las em um local seguro.
Impact reached:
A reportagem provocou manifestações de diversas organizações da sociedade civil e de candidatos à Presidência da República, entre eles de Lula, que ganhou as eleições posteriormente e levou a principal liderança Yanomami, Davi Kopenawa, para a equipe de transição que discutiu as medidas urgentes para garantir a segurança dos indígenas brasileiros.
Techniques/technologies used:
Pedidos feitos por meio da Lei de Acesso à Informação e compilação no Excel e análise de dados.
Context about the project:
O Território Yanomami, apesar de, em teoria, ser protegido pelo Estado brasileiro foi abandonado e invadido pelo crime organizado. Homens guardam as áreas de exploração de ouro com armas pesadas como fuzis e atacam opositores a tiros – em uma única comunidade, foram 10 ataques em um ano. Também expulsaram por meio de ameaças as equipes de saúde, único sinal do estado restante no local. Entrar nestas áreas tomadas pelo garimpo em segurança é impossível, nem as próprias forças de segurança aconselham. Os próprios indígenas que vivem nestas áreas têm medo de falar. Mas não há outra forma de ouvir as histórias das mulheres destes territórios, o que era nosso objetivo, sem ir até lá, já que elas não falam português e não saem das aldeias, distantes mais de uma hora da cidade por meio de avião. O levantamento de dados prévio nos ajudou a ser mais precisos e focar exatamente nas comunidades que precisávamos, o que reduziu nosso tempo de trabalho em campo e aumentou nossa segurança. Tentamos organizar a nossa ida para duas comunidades, mas fomos desaconselhados pelas próprias lideranças, que disseram que não teriam como garantir nossa ida em segurança. Então, tivemos que colocar em prática uma operação quase de guerra: retirar de avião mulheres de aldeias em áreas afetadas e levá-las para uma aldeia onde o garimpo ainda não chegou. Assim, promovemos um encontro de mulheres de três regiões diferentes (que os próprios dados obtidos pela Lei de Acesso nos apontaram como mais afetadas) e, com ajuda de duas tradutoras do Yanomam, ouvimos as terríveis histórias que elas vivenciam no dia a dia. Para garantir a segurança delas, não demos os nomes e nem fotos que pudessem reconhecê-las na reportagem.
What can other journalists learn from this project?
Como o uso dos dados não pode, nem deve se bastar nos números. Acredito na necessidade de escutar as pessoas e as histórias por trás dos dados, porque elas ampliam e explicam os problemas que os dados apontam. Sabíamos pelos dados, por exemplo, como a morte de crianças aumentou, como a malária aumentou. Mas só depois de identificar estas áreas mais críticas com os dados é que fomos aos locais e escutamos as piores histórias, aquilo que nem os dados conseguem captar: os estupros de indigenas, as meninas Yanomami sendo aliciadas para a prostituição no garimpo, o trabalho escravo de jovens indígenas nos locais dominados pelo crime organizado. E, com isso, explicar a total complexidade do tema. Os dados precisam ser o ponto de partida para auxiliar a realização da melhor reportagem, daquela que conte as histórias humanas que os dados mostram.
Project links:
https://sumauma.com/por-que-os-garimpeiros-comem-as-vaginas-das-mulheres-yanomami/
https://sumauma.com/en/por-que-os-garimpeiros-comem-as-vaginas-das-mulheres-yanomami/
https://sumauma.com/es/por-que-os-garimpeiros-comem-as-vaginas-das-mulheres-yanomami/