2023
Oito ruralistas querem a terra do “Índio do Buraco”
Entry type: Single project
Country/area: Brazil
Publishing organisation: Agência de notícias AMAZÔNIA REAL
Organisation size: Small
Publication date: 2022-12-20
Language: Portuguese
Authors: Josi Gonçalves, autora
Eduardo Nunomura, editor

Biography:
Josi Gonçalves é jornalista com trabalhos publicados para emissoras de TV (Globo, Record, Rede TV), agências de notícias (BBC, UOL, EFE). Tem atuação na defesa dos direitos humanos e saúde mental (autismo, esquizofrenia). É ativista, feminista, mãe, apresentadora de TV. Possui experiência com assessoria de imprensa e consultoria na área de comunicação na gestão pública, privada e jornais impressos e digitais. Colabora com a agência Amazônia Real em Porto Velho (RO). (Twitter: @josigoncalvess)
Project description:
Em setembro de 2022, o “Índio do Buraco” foi encontrado morto em Rondônia. O último sobrevivente do povo Tanaru resistiu solitariamente durante quase três décadas, após ver seu povo ser dizimado. Com a morte do indígena, latifundiários alegam ser donos do território e entraram na justiça para obter o direito à terra. Durante quase dois meses busquei saber quem eram os ruralistas. Tarefa dificultada por instituições públicas detentoras desses dados. Recorri à Lei de Acesso à Informação, que demorou a dar respostas, mas, revelou a identidade dos ruralistas que querem expandir seus pastos e lavouras para dentro da TI Tanaru.
Impact reached:
Além de dar notoriedade e transparência a um caso que em tempos de polaridade no Brasil, onde os povos originários não tinham a visibilidade necessária, a reportagem é citada em uma Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal que requer da Fundação Nacional dos Povos ìndigenas que a área do “ìndio do Buraco” seja reconhecida como terra pública e tenha destino socioambiental.
A matéria foi republicada por outros sites de notícia, compartilhada por jornalistas verificados no twitter, onde obteve milhares de visualiações e inúmeros retwetts.
Techniques/technologies used:
A reportagem levou dois meses para ser produzida. Para construir o conteúdo, procurei ouvir todas as partes envolvidas, além de me embasar em referenciais teóricos, checagem de dados e pesquisa de processos. Foram entrevistadas três pessoas e consultadas várias fontes de dados, entre elas uma tese de doutorado, uma petição, uma ação civil pública e o site do MPF. A matéria procurou oferecer diversidade de vozes e perspectivas amplas: históricas, geográficas, ambientais e etno-sociais. O grande diferencial foi a resposta obtida através do pedido de informações à Funai, por meio da Lei de Acesso à Informação, que deu robustez à matéria a partir da divulgação, exclusiva, dos nomes dos latifundiários interessados na Terra Indígena Tanaru.
Context about the project:
É fundamental que se diga que no governo anterior houve um desmonte das políticas públicas ambientais e não houve, como prometido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, enquanto candidato, nenhum centímetro de terra indígena demarcada.
Também foi difícil construir a reportagem sem ter acesso à Terra Indígena Tanaru. Na Amazônia as distâncias são enormes e muitas vezes é preciso percorrer longos trechos de estrada de terra.
Outro ponto que deve ser destacado é que muitas fontes tiveram medo de se manifestar por medo de retaliações. O medo não é infundado. A Amazônia registra níveis elevados de assassinatos de ativistas, ambientalistas, protetores ambientais e defensores dos direitos humanos.
Sobre o acesso aos dados, embora exista a Lei de Acesso à InFormação (LAI), outra lei, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), acaba sendo usada como escudo para privar o jornalista das informações que busca.
Por fim, é preciso identificar bons e críveis referenciais teóricos na internet que podem ajudar satisfatoriamente a subsidiar a reportagem.
What can other journalists learn from this project?
O mais importante é não desistir após a primeira negativa de informações. É preciso ter um número amplo de fontes confiáveis e em tempos de imediatismo da notícia, não ter pressa para apurar um fato. Vale mais construir uma reportagem bem aprofundada e com dados novos e robustos, que uma notícia superficial.
Sobretudo, mesmo sabendo de antemão que alguma ação será realizada, se a fonte pediu sigilo temporário, respeitar esse tempo. Construir essas pontes pode até render que uma notícia seja dada em primeira mão pela fonte.
Por último, é preciso entender que a internet, se bem conduzida e investigada, é uma aliada. Essa reportagem foi realizada toda por telefone e através de pesquisas na internet.
Project links:
https://amazoniareal.com.br/ti-tanaru-ameacada/
https://amazoniareal.com.br/o-ultimo-tanaru-o-indio-do-buraco-e-encontrado-morto-em-rondonia/
https://amazoniareal.com.br/indio-do-tanaru-sera-sepultado-na-terra-onde-sempre-viveu/
https://amazoniareal.com.br/o-ultimo-tanaru-sofre-violacoes-da-funai-ate-no-sepultamento/