2023

Mulheres que caminham em média 90 dias por ano para buscar água no Semiárido vão votar por cisternas

Entry type: Single project

Country/area: Brazil

Publishing organisation: Gênero e Número

Organisation size: Small

Publication date: 2022-09-20

Language: Portuguese

Authors: Adriana Amâncio

Biography:

Jornalista, nordestina do Recife. Tem experiência na cobertura de pautas investigativas, nas áreas de Direitos Humanos, segurança alimentar, meio ambiente e gênero. Foi assessora de comunicação de parlamentares na Câmara Municipal do Recife e na Assembleia Legislativa de Pernambuco. Foi assessora da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) e, como freelancer, contribuiu com veículos como Gênero e Número, O Joio e O Trigo, Marco Zero Conteúdo e The Brazilian Report.

Project description:

Reportagem especial, que utilizou dados para retratar a vida de mulheres do Semiárido brasileiro, sem acesso à água de consumo humano, que caminham, em média, 90 dias por ano em busca de água. Na região onde elas vivem, as chuvas se concentram em apenas quatro meses do ano. Nos demais, ocorre a estiagem. Descobrimos que, por essa razão, a vida delas, principais responsáveis pelo abastecimento de suas casas, gira em torno da busca pela água. Os dados nos ajudaram a analisar como a desaceleração na principal política de acesso à água no Brasil, nos últimos quatro anos, afetou essas mulheres.

Impact reached:

Desde a nossa equipe de reportagem até o público leitor, jamais imaginava que, no Brasil do século XXI, haviam mulheres impedidas de serem cidadãs por não ter acesso à água de consumo humano. Não sabíamos que em uma região longínqua do país, havia mulheres que passavam três meses do ano caminhando em busca de água, um recurso básico, um direito humano. Sistematizar e traduzir esta realidade em dados foi inovador, permitiu denunciar para o próprio Brasil o peso da escassez hídrica para as mulheres. Isso ocorre porque na região onde essas mulheres vivem, historicamente, cabe a elas abastecer a casa com água. Desta forma, elas sentem na pele o fardo maior de não terem acesso a esse recurso de consumo humano. Até então, esse aspecto não era tão abordado nos textos e muito menos evidenciado por meio de dados. A nossa reportagem trouxe um dado novo: mulheres caminham, em média, 90 dias por água. Além disso, usamos os dados para analisar e contar a história da principal política pública de acesso à água do país, o Programa Cisterna, que à época, estava praticamente paralisado por falta de investimento. Ao longo desses 20 anos de existência, esse foi um dos poucos e primeiros registros sobre esta política, que foi proposta pela sociedade civil organizada, e que mostrou êxito, como mostram os nossos dados, não apenas em levar água de consumo humano para populações remotas, mas também, atender as mulheres, principais afetadas peja escassez hídrica. Este aspecto tornou o nosso conteúdo inovador e mostra o compromissodo verem abordar, para o público, pautas com recorte geográfico e de raça.

Techniques/technologies used:

Acessamos bases de dados do Ministério da Cidadania e do Ministério da Economia, fazendo cruzamento desses dados. Com isso, conseguimos mostrar a relação histórica entre o aumento no investimento do programa e o aumento no número de tecnologias. Analisamos a relação entre a execução da política pública com base na proporção entre os recursos empenhados e os recursos executados a cada ano. Para facilitar a leitura, foram feitos infográficos e ilustrações. Com o recurso do infográfico, destacamos momentos importantes da política pública, tanto no aspecto positivo, quanto negativo, permitindo uma leitura em linha do tempo.

Context about the project:

Inicialmente, esta matéria trata de uma das regiões que concentra os mais altos índices de pobreza, fome, analfabetismo e falta de infraestrutura. Ainda assim, é pouco coberta peja imprensa. Além disso, é muito difícil que as poucas coberturas realizadas tragam o recorte de gênero. Segundo, a nossa apuração se deu em um momento delicado da política brasileira no qual o acesso as fontes oficiais de dados tornou-se mais difícil e muitas outras fontes ficaram desatualizadas ou saíram do ar. A busca por esses dados foi um processo ainda mais complexo do que o comum. Por fim, as personagens retratadas nesta matéria vivem em regiões remotas do Semiárido, de difícil acesso e difícil comunicação, não costumam ter oportunidades de falar para a imprensa. Localizá-las e estabelecer um contato, entrevisá-las, exigiu um processo de produção especial, mas valeu à pena porque pudemos trazer a tona uma história real, que se passa em um Brasil, que ainda épouco conhecido por diversas pessoas.

What can other journalists learn from this project?

Acreditamos que esse projeto ensina a importância de , inicialmente, denunciar realidades de violação dos direitos humanos em regiões remotas, mesmo que a produção da matéria apresente desafios hercúleos. Isso porque acreditamos que é papel do jornalismo retratar realidades pouco alcançadas. Segundo, mesmo diante da pouca transparência de dados, das adversidades impostas por um governo que não respeita a liberdade de imprensa, é possível e vale a pena reunir esforços para acessar os dados e continuar fiscalizando o poder público. Por fim, esta reportagem mostrou como os dados nos oferecem um mundo de possibilidades de trabalho no jornalismo. Aqui, analisamos e contamos a história de uma política pública de acesso à água, fundamental para a cidadania das mulheres e cujo processo de desaceleração estava ligado ao agravamento da escassez hídrica entre elas. Além de dar mais evidência, os dados tornam uma informação complexa mais didática para o leitor.

Project links:

https://www.generonumero.media/reportagens/eleicoes-2022-mulheres-agua-semiarido-cisternas/

https://www.generonumero.media/reportagens/maes-solo-quilombolas-merenda/

https://ojoioeotrigo.com.br/2022/10/cercados-pelo-agronegocio-agricultores-familiares-e-indigenas-sofrem-com-inseguranca-alimentar-no-cerrado/

https://projetocolabora.com.br/ods2/a-pressa-do-povo-com-fome-a-espera-dos-primeiros-100-dias-de-lula/?amp=1

https://marcozero.org/inflacao-alta-faz-brasileiros-mais-pobres-substituirem-alimentos-saudaveis-por-comida-ultraprocessada/