2023

Aquazônia: a Floresta-Água

Entry type: Single project

Country/area: Brazil

Publishing organisation: Ambiental Media

Organisation size: Small

Publication date: 2022-05-05

Language: Portuguese, English

Authors: Thiago Medaglia, Laura Kurtzberg, Cecília Gontijo Leal, Ronaldo Ribeiro, Letícia Klein, Kevin Damasio, Victor Papaleo, André Dib.

Biography:

Thiago Medaglia, Coordenador. Jornalista, escritor, fundador da Ambiental Media e idealizador do Aquazônia. Mestre em História da Ciência pela Universidade de Harvard; fellow no Programa Knight de Jornalismo Científico do MIT 2020; pós-graduado em Jornalismo Empreendedor pela City University de Nova York. Foi repórter na revista Caminhos da Terra, pioneira do ambientalismo no Brasil, e editor na revista National Geographic Brasil. Publicou artigos de opinião e reportagens em veículos de imprensa como Folha de São Paulo, Estadão, Mongabay, UOL, InfoAmazonia, Mother Jones e outros.

Project description:

Desmatamento e fogo têm sido os principais indicadores da destruição da Amazônia. Mas entendemos os efeitos acumulados das atividades humanas em rios, lagos e várzeas? Quais as maiores ameaças à dinâmica da água na maior bacia hidrográfica do planeta? Com base nos melhores dados científicos disponíveis, o inédito Índice de Impacto nas Águas da Amazônia reúne dados de monitoramento e pesquisa para identificar as áreas mais vulneráveis. Os resultados do índice são acompanhados por reportagens realizadas em campo ou remotamente (em casos em que a pandemia inviabilizou viagens). O time do projeto envolveu jornalistas, cientistas, desenvolvedores, fotógrafos e designers.

Impact reached:

Conseguimos gerar uma manchete de alcance internacional e com grande destaque em alguns dos principais veículos de imprensa do Brasil focada na degradação dos ecossistemas aquáticos. Trata-se do principal resultado do nosso índice, que foi o ponto de destaque na manchete da Folha, o principal jornal brasileiro: “Na Amazônia, 20% das bacias sofrem alto impacto de atividades humanas”. Gerar uma manchete que, sem o Aquazônia, não existiria, é bastante positivo. Da mesma forma, conseguimos apontar as localidades mais impactadas pela degradação aquática. Essa consistência permitiu que jornalistas pudessem explorar os resultados secundários do Aquazônia, que são aqueles surgidos dos cruzamentos entre as camadas de dados do índice com outras (como bacias hidrográficas, Terras Indígenas, etc). Ou seja, abastecemos o jornalismo local amazônico de informações baseadas em ciência. O projeto, enfim, foi repercutido pelos principais veículos de notícias do Brasil, incluindo Folha de S. Paulo, Globo TV, G1, Poder 360 e National Geographic Brasil, além de veículos locais, somando mais de 40 aparições na mídia. Ele fez sucesso internacionalmente e foi republicado pela Mongabay (em inglês) e pela Cambio 16 na Venezuela (em espanhol). A Agência Nacional de Águas (órgão federal brasileiro) entrou em contato conosco buscando insights. Por fim, Aquazônia venceu quatro prêmios de jornalismo em 2022: melhor visualização de dados no jornalismo da América Latina no ano, segundo o júri da Associação Mundial de Publishers de Notícias (WAN-IFRA), ficando em primeiro lugar nas categorias Geral e Redações Médias ou Pequenas. Por causa desses resultados, Aquazônia concorreu com os vencedores de outras partes do mundo e acabou em terceiro lugar na categoria Visualização de Dados na etapa mundial da premiação da WAN-IFRA. A reportagem também foi eleita a melhor visualização de dados do Brasil no mais importante prêmio de jornalismo de dados do país, o Cláudio Weber Abramo.

Techniques/technologies used:

Nas visualizações, as principais ferramentas utilizadas foram Qgis e MapBox. Consideramos a Bacia Hidrográfica Amazônica em território brasileiro, que corresponde a 55% da área total da bacia ou 5 milhões de km2. Para elaborar o Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA) levantamos dados espaciais representativos das principais ameaças aos ecossistemas aquáticos da Amazônia: mudanças no uso e cobertura do solo, infraestrutura, degradação florestal e mudanças climáticas. Outras ameaças relevantes, como pesca e contaminação por agrotóxicos, não foram incluídas devido à ausência de dados disponíveis. Os dados de ocorrência e distribuição das ameaças foram obtidos em bases de dados públicas e gratuitas como Projeto Mapbiomas (2021), Rede Amazônica de Informação Socioambiental (RAISG, 2021), Agência Nacional de Águas (ANA, 2021), Climate Hazards Group Infrared Precipitation with Stations (CHIRPS, 2021) e a partir de artigos científicos (Funk et al.; 2015; Matricardi et al., 2020; Souza et al.; 2020). Selecionamos nove camadas de dados de ameaças para compor o IIAA: agricultura e pecuária (AGP), área urbanizada (URB), garimpo ilegal (GAR), mineração industrial (MIN), hidrelétricas (HDL), cruzamento de estrada (EST), hidrovia (HID), degradação florestal (DEG) e diferença de precipitação (PRE). A definição da escala espacial para o cálculo do IIAA baseou-se na classificação de bacias hidrográficas da Amazônia proposta por Venticinque et al. (2016), ‘Amazon GIS-Based River Basin Framework’. Assim, para a bacia do rio Amazonas no Brasil, calculamos o IIAA para 11216 microbacias com área média de 479,6 km2. Em seguida calculamos os valores de cada variável de ameaça para cada microbacia. A metodologia completa está em https://aquazonia.ambiental.media/metodologia.

Context about the project:

A Ambiental tem frequentemente noticiado questões ambientais que afetam a floresta amazônica. Em 2020, publicamos outra investigação, chamada Cortina de Fumaça (https://cortinadefumaca.ambiental.media), que refuta diretamente a narrativa criminosa do governo do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre a relevância dos incêndios florestais na Amazônia. O projeto Aquazônia continua nosso trabalho em comunicação científica e cartografia interativa. Esse projeto foi motivado por uma crescente conscientização sobre a importância da bacia de água doce da Amazônia. A pesquisa da cientista Cecília Gontiho Leal, e seu artigo intitulado “Repensando as prioridades no planejamento da conservação para enfrentar a crise da biodiversidade” em particular, nos motivou a aprofundar o tópico. A reportagem foi inovadora ao colocar o elemento água como prioridade na aferição dos impactos de atividades humanas na conservação da Floresta Amazônica. No debate internacional, predomina há décadas um padrão de levantamento e análise de dados sobre a degradação da cobertura vegetal: as queimadas, o desmatamento, os garimpeiros, a pecuária e as monoculturas de soja. Os ecossistemas aquáticos também sofrem com todas as mazelas das atividades humanas predatórias – entre outros fatores, a perda da floresta afeta o ciclo hidrológico -, mas os danos são mais difíceis de serem identificados e entendidos, seja em monitoramento remoto ou em dados de pesquisas científicas. Importante destacar que enxergamos a falta de priorização do tema água na Amazônia como erro estratégico de grande proporção, que poderá resultar em consequências graves de natureza abrangente. Qualquer política de mitigação dos efeitos da emergência climática deverá invariavelmente passar pela preservação de rios, lagos e igarapés na Amazônia, e o descaso do poder público trará (já traz, a bem da verdade) prejuízos para a produção de alimentos, o abastecimento de populações humanas, a geração de energia, entre outros. Não há combate global à crise climática viável sem um olhar extremamente cuidadoso para a maior bacia hidrográfica do planeta. O mérito do Aquazônia foi redirecionar a discussão para os recursos hídricos por meio da criação do Índice de Impacto nas Águas da Amazônia (IIAA), um recurso claro e didático, que nos propciou criar o primeiro mapa jornalístico baseado em ciência com o retrato da degradação aquática na Amazônia Brasileira. “Mesmo que a maioria dos impactos aferidos no índice esteja acontecendo na terra, o nosso olhar voltou-se para a localização, a intensidade e a escala da pressão que exercem sobre os corpos hídricos, em cada microbacia”, explica Leal, bióloga brasileira vinculada à Universidade de Lancaster, no Reino Unido, consultora científica do projeto e principal autora do índice. Entrevistamos duas dezenas de pesquisadores especializados no tema e levantamos as principais bases de dados e estudos científicos existentes. A partir desse levantamento, enxergamos que seria necessário criar um índice capaz de avaliar o efeito combinado de diversas atividades humanas sobre rios, lagos, florestas alagadas e igarapés amazônicos. Antes da publicação, submetemos os resultados do índice à uma banca avaliadora externa, composta por dois jornalistas de dados nível sênior e um biólogo especializado em água na Amazônia, vinculado à Universidade Federal de Minas Gerais (podemos compartilhar os nomes).

What can other journalists learn from this project?

O projeto Aquazônia foi fruto de um trabalho em equipe multidisciplinar, que contou com profissionais de diferentes especialidades. Acreditamos que esse é um aprendizado importante para jornalistas e redações, pois unindo esforços, é possível realizar trabalhos mais aprofundados e relevantes. Entendemos também que o uso de jornalismo de dados, com uma cartografia interativa e visualização atraente e acessível, é fundamental para explorar temáticas complexas, por vezes pouco cobertas pela mídia, e potencialmente gerar conhecimentos novos (como foi o caso do índice, que é inédito). Esperamos que as informações apresentadas por este projeto sobre as regiões mais vulneráveis da bacia hidrográfica da Amazônia sirvam de inspiração para novos estudos científicos capazes de preencher as imensas lacunas de dados que ainda existem. Esperamos também que inspire novas reportagens jornalísticas, debates nas redes sociais e novas legislações que possam garantir um futuro saudável para as águas da Amazônia, das quais todos dependemos. Há muito espaço para projetos relevantes no jornalismo de dados a partir de bases de dados científicas, que podem ser exploradas em parceria com pesquisadores ou não, dependendo da complexidade do tema e das habilidades do time, sem comprometer a independência necessária ao jornalismo. Nossa missão é encorajar jornalistas e profissionais de mídia no Brasil a apostarem em um jornalismo científico que valorize a qualidade estética e de conteúdo, combinando o trabalho baseado em dados com reportagens de campo. Por fim, nossa próxima busca passa por ampliar o impacto e o alcance dos nossos projetos com tomadores de decisão. Para tanto, estamos costurando parcerias com organizações focadas em advocacy na área socioambiental.

Project links:

https://aquazonia.ambiental.media/

https://aquazonia.ambiental.media/en

https://news.mongabay.com/2022/05/a-new-index-measures-the-human-impacts-on-amazon-waters/

https://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2022/05/05/20percent-da-bacia-amazonica-esta-impactada-por-atividades-como-mineracao-diz-estudo.ghtml

https://www.nationalgeographicbrasil.com/meio-ambiente/2021/11/serra-pelada-fluvial-corrida-do-ouro-expoe-ameacas-ao-rio-madeira

https://g1.globo.com/ro/rondonia/noticia/2022/05/05/bacia-do-rio-madeira-e-uma-das-mais-impactadas-da-amazonia-brasileira-aponta-indice.ghtml

https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2022/05/na-amazonia-20-das-bacias-sofrem-alto-impacto-de-atividades-humanas.shtml